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terça-feira, 8 de maio de 2012

O poder do "putinismo"


A realidade da Rússia, com o reempossamento de Vladmir Putin à presidência, nos faz retomar algumas questões. Desde o governo de Mikhail Gorbachev - que, enquanto governante, mostrou forte inclinação para uma reforma política, pretendendo implantar um modelo social-democrático dentro da ainda União Soviética -, a Rússia não tem mostrado muitos avanços, nesse sentido, há uns 20 anos. Acontece que, agora, o troca-troca entre Putin e seu apadrinhado político, Dmitri Medvedev, começa a chamar atenção de uma pequena parcela mais esclarecida da população.
Após quatro anos servindo como premiê do aliado Medvedev, o "pai da nação" volta para o lugar que tanto tem guardado para si. As figuras de alto escalão convidadas para sua posse como presidente, nessa segunda-feira, dia 7, têm peso simbólico: Gerhard Schröder, Silvio Berlusconi, Alexander Lukachenko, Nursultan Nazarbaiev, Viktor Yanukovitch.  
Putin venceu a eleição presidencial de 4 de março com 64% dos votos, porém sua vitória foi precedida por protestos em massa como não se viam na Rússia há 20 anos. A quantidade de pessoas não é certa, mudando dependendo da fonte; mas presume-se que, somente na capital, dezenas de milhares foram às ruas para se manifestar contra as irregularidades, possíveis fraudes, durante as recentes eleições parlamentares. Mais tarde, os protestos se voltaram cada vez mais contra Putin, pessoalmente.
A situação política do país não é um mar de flores. Somando o mandato anterior de Vladmir Putin, a Rússia já está há doze anos sob o domínio do "putinismo". Ou seja, se conseguir terminar o mandato recém-iniciado, já estará batendo o tempo de permanência do líder soviético Joseph Stálin. Digamos que não seja característica muito apropriada, para quem vem prometendo avanços na democracia, essa sede de poder. Mas nada tão distante de piorar, é claro.  Com as alterações de leis já vigentes, mudando o tempo de mandato de 4 para 6 anos, é possível que ele permaneça até 2024.
Ainda há poucos meses, Dmitri Medvedev anunciara reformas liberais. O parlamento nacional implementou parte delas. Assim, por exemplo, ficou mais fácil fundar partidos políticos. Além disso, voltaram a ser adotadas as eleições para governador, eliminadas por Putin. "Não se trata do início de uma nova era, mas de um pequeno passo na direção certa", analisou o especialista em assuntos russos Hanns-Henning Schröder. No entanto, ele parte do princípio que as reformas serão aplicadas de modo a deixar intocado o poder de Putin.
As denúncias contra o atual presidente não são poucas. Seu antigo colaborador, Sergei Kolesnikov, relatou um grande esquema envolvendo Vladmir Putin, quando este ainda era apenas premiê. Segundo ele, foram feitos vários desvios comandados por Putin, destinados a empresas offshore e, inclusive, a um palácio suntuoso com todas as pompas de um czar, em uma montanha densamente arborizada com vista para a costa do Mar Negro na Rússia. Kolesnikov fez a denúncia diretamente a Medvedev por meio de carta, mas não obteve qualquer resposta.
Diante de um amontoado de políticas funestas, uma coisa salta à cabeça: "A democracia deve ser (re)pensada!" Algumas nações do leste europeu ainda não procuraram estabelecer uma democracia em seus Estados. Cabe indagar o porquê do ostracismo diante de tamanha falta de respeito que os políticos vêm praticando, com seus excessivos (abusos de) poderes. Apesar de acontecer protestos na Rússia, por exemplo, ainda são relativamente pequenos. O Brasil, embora viva numa situação um tanto diferente, é também um exemplo dessa falta de iniciativa diante de políticas aviltantes. Grande parte da população continua vivendo suas vidas como se tudo não passasse de uma quimera; a parte mais indignada é justamente a que teve oportunidade de crescer e se esclarecer; no caso da Rússia, uma nova classe média. Faz-se importante, assim, um grito para que todos abandonem as propagandas políticas enganosas e se atenham à realidade que se impõe em nossa frente, enquanto estamos olhando para o lado. As pessoas se esquecem de que Putins são responsáveis pela qualidade de vida que levamos e, sobretudo, não são alheios à nossa força, ao nosso ataque.

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