A realidade da Rússia, com o
reempossamento de Vladmir Putin à presidência, nos faz retomar algumas questões. Desde o governo de Mikhail Gorbachev - que, enquanto governante,
mostrou forte inclinação para uma reforma política, pretendendo implantar um
modelo social-democrático dentro da ainda União Soviética -, a Rússia não tem
mostrado muitos avanços, nesse sentido, há uns 20 anos. Acontece que, agora, o
troca-troca entre Putin e seu apadrinhado político, Dmitri Medvedev, começa a
chamar atenção de uma pequena parcela mais esclarecida da população.
Após quatro anos servindo como premiê do
aliado Medvedev, o "pai da nação" volta para o lugar que tanto tem
guardado para si. As figuras de alto escalão convidadas para sua posse como
presidente, nessa segunda-feira, dia 7, têm peso simbólico: Gerhard Schröder,
Silvio Berlusconi, Alexander Lukachenko, Nursultan Nazarbaiev, Viktor
Yanukovitch.
Putin venceu a eleição presidencial de 4
de março com 64% dos votos, porém sua vitória foi precedida por protestos em
massa como não se viam na Rússia há 20 anos. A quantidade de pessoas não é
certa, mudando dependendo da fonte; mas presume-se que, somente na capital,
dezenas de milhares foram às ruas para se manifestar contra as irregularidades,
possíveis fraudes, durante as recentes eleições parlamentares. Mais tarde, os
protestos se voltaram cada vez mais contra Putin, pessoalmente.
A situação política do país não é um mar
de flores. Somando o mandato anterior de Vladmir Putin, a Rússia já está há
doze anos sob o domínio do "putinismo". Ou seja, se conseguir terminar
o mandato recém-iniciado, já estará batendo o tempo de permanência do líder
soviético Joseph Stálin. Digamos que não seja característica muito
apropriada, para quem vem prometendo avanços na democracia, essa sede de poder.
Mas nada tão distante de piorar, é claro. Com as alterações de leis já
vigentes, mudando o tempo de mandato de 4 para 6 anos, é possível que ele
permaneça até 2024.
Ainda há poucos meses, Dmitri Medvedev
anunciara reformas liberais. O parlamento nacional implementou parte delas.
Assim, por exemplo, ficou mais fácil fundar partidos políticos. Além disso,
voltaram a ser adotadas as eleições para governador, eliminadas por Putin. "Não se trata do início de uma nova
era, mas de um pequeno passo na direção certa", analisou o especialista em
assuntos russos Hanns-Henning Schröder. No entanto, ele parte do princípio que
as reformas serão aplicadas de modo a deixar intocado o poder de Putin.
As denúncias contra o atual presidente não
são poucas. Seu antigo colaborador, Sergei Kolesnikov, relatou um grande
esquema envolvendo Vladmir Putin, quando este ainda era apenas premiê. Segundo
ele, foram feitos vários desvios comandados por Putin, destinados a
empresas offshore e, inclusive, a um palácio suntuoso com todas as pompas de um czar, em uma montanha densamente arborizada com vista para a costa do Mar Negro na Rússia. Kolesnikov fez a denúncia diretamente a
Medvedev por meio de carta, mas não obteve qualquer resposta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário